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Rosana Hermann
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Seu Didi e Dr. Renato não vão mais se calar

Rumores pouco honrosos sobre o comediante circulam na internet há anos; verdade ou não, o fato é que as fake news viralizam mais que as notícias reais

Um homem idoso está posando para a foto, olhando diretamente para a câmera. Ele tem cabelo grisalho e usa uma camisa polo rosa. Sua mão está levantada em direção à boca, como se estivesse fazendo um gesto de silêncio ou contemplação. O fundo da imagem é de cor cinza, criando um contraste com sua roupa.
O comediante Renato Aragão - Eduardo Knapp - 18.abr.24/Folhapress
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São Paulo

Esse caso é real e aconteceu na Rede Globo. Um jovem protagonista e uma atriz do elenco de uma novela, casada com o diretor-geral, se apaixonaram perdidamente. Ao descobrir a traição, o diretor abandonou o cargo e planejou uma vingança junto com um amigo comunicador para acabar com a carreira do galã.

Inventaram e divulgaram uma história absurda, de que o ator teria sido hospitalizado depois de introduzir uma cenoura em seu reto. Você já deve ter matado a charada. O ano era 1977, a novela era "Duas Vidas", de Janete Clair (1925-1983). O diretor era Daniel Filho. O amigo que divulgou foi Carlos Imperial, enquanto a atriz era Betty Faria, e o ator, Mario Gomes.

Essa mentira da cenoura no reto entrou para os anais da comunicação como o boato mais longevo da história que, mesmo depois de amplamente desmentido, perdura até hoje, quase 50 anos depois. E como isso acontece? A resposta é complexa, mas está ligada ao fato de que o ser humano não se pauta pela verdade, mas por histórias impactantes, sejam elas reais ou não.

Um caso semelhante pode estar acontecendo com Renato Aragão, um dos mais conhecidos comediantes do Brasil, com 70 anos de carreira. Essa semana, Aragão deu uma entrevista para o F5 queixando-se de boatos recorrentes de que ele seria grosseiro com fãs e funcionários, não admitiria ser chamado de "Seu Didi", mas de "Dr. Renato", e teria demitido colaboradores e funcionários injustamente. Aos 90 anos e dizendo-se um "idoso chorão", ele nega as acusações e diz que não vai mais se calar ou aceitar os ataques à sua pessoa e à sua família.

De fato, não é de hoje que esses supostos casos sobre ele circulam na internet. Em 2012, a história de que Aragão teria demitido seu motorista por chamá-lo de "Seu Didi" em vez de "Dr. Renato", voltou a ser publicada por uma colunista. À época, escrevi sobre o assunto em meu blog, Querido Leitor, mostrando variações desses casos, postadas em 2007.

As publicações eram sempre as mesmas: alguém que trabalhou com Renato Aragão teria visto o artista destratando o motorista, o pedreiro, o limpador de piscina, o que "provaria" sua arrogância. Nunca tem um dado concreto, um nome, uma prova. Acho até provável que, em 90 anos de vida, Renato Aragão tenha dado alguma resposta atravessada para alguém que o abordou, mas essas histórias têm estrutura de ficção.

O fato é que as mentiras colam. Está provado que as fake news viralizam mais que notícias reais, justamente porque elas são criadas para impactar as pessoas que, indignadas, compartilham os boatos. Ninguém fica indiferente diante de uma cenoura no ânus, uma injustiça de um patrão com um funcionário ou uma grosseria de um artista com um fã. A pessoa lê, reage e compartilha, sem verificar a veracidade da fonte.

Em muitos casos, há "fontes" com grande alcance que publicam mentiras de forma consciente, porque em vez de buscarem a verdade, querem apenas os cliques, a audiência, mesmo que isso custe a carreira, a sanidade ou a vida de alguém. E essa, lamentavelmente, é uma verdade dos nossos tempos.

Rosana Hermann

Rosana Hermann é jornalista, roteirista de TV desde 1983 e produtora de conteúdo

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